Qual a semelhança entre a Disney e o Wolverine? Ambos são os melhores naquilo que fazem. E qual a diferença? É que, ao contrário do herói nervosinho e que agora é seu funcionário, o que a Disney faz é extremamente agradável. Para quem não entendeu, favor ler umas edições antigas do X-Men para adquirir um pouco de cultura geral, principalmente da fase de Chris Claremont e John Byrne.
Mas, voltando ao tema do post, obtive recentemente uma informação que pode ser um choque para os mais românticos: a Disney é uma empresa. Pois é. A Disney é uma empresa, com
ações na bolsa e com o objetivo de remunerar seus investidores. Por causa disso, personagens que não agradam ao público e não vendem camisas nem brinquedos representam um sério problema. E como a Disney é sempre pragmática, uma solução bem comum é simplesmente sacrificar o personagem ao invés de continuar gastando dinheiro com ele. Por exemplos, acho que ninguém nunca viu nos parques os personagens dos filmes Home in the Range (Nem que a Vaca Tussa), Corcunda de Notre Dame, Atlantis, Planeta do Tesouro ou Inspetor Bugiganga, todos grandes fracassos nos cinemas.
Uma outra alternativa, é buscar a revitalização do personagem, passando por um relançamento ou por um reposicionamento. Acho que o relançamento de maior sucesso foi o Winnie the Pooh, antigamente conhecido no Brasil como Ursinho Puff. Com seu jeito meigo e fala fina, sempre achei o Pooh um porre e continuo achando, mas de uns dez anos para cá a Disney resolveu investir pesado no personagem e seus amigos. Em 1999, inaugurou no Magic Kingdom o ride "
The Many Adventures of Winnie the Poooh", e seis anos depois, o "
Pooh's Playful Spot" (recentemente fechado para a expansão da Fantasyland).
Os personagens ainda participam do Playhouse Disney Live!, no Disney Hollywood Studios. A Disney também lançou o filme do Tigrão em 2000, depois mais dois fimes em 2003 e 2005 (o último filme da turma havia sido lançado em 1983), e há um filme previsto para 2011. E, por último, os personagens tornaram-se tão ubíquos quanto o Mickey e agora podem ser encontrados na Fantasyland e no restaurante Crystal Palace no Magic Kingdom, no CharacterTrail do Animal Kingdom, no Reino Unido (Epcot) e em vários outros lugares. Não é preciso dizer que as mercadorias com os personagens começaram a surgir de tudo que é lado. Como resultado, Pooh e sua turma foram promovidos à primeira divisão dos personagens da Disney e ganharam uma nova leva de fãs - inclusive entre os acionistas.
A outra forma de revitalização seria o reposicionamento. Não sou especialista em marketing, mas eu poderia definir reposicionamento como a mudança da imagem de um produto na mente dos consumidores, expandindo ou alterando o seu mercado potencial. Dessa forma, um dos reposicionamentos mais interessantes que a Disney faz é juntar diferentes personagens em um novo grupo. Um exemplo é o grupo "Disney Princesses", que une as principais princesas, como Cinderella, Branca de Neve e Aurora. Elas agora aparecem juntas em desfiles, sessões de autógrafos e restaurantes (Cinderella`s Royal Table no Magic Kingdom e Akershus Royal Banquet Hall no pavilhão da Noruega, no Epcot).
O grupo que eu mais gosto, sem dúvida, é o "Disney Villains", que une os principais vilões da Disney. O grupo básico é formado por Capitão Gancho (inimigo do Peter Pan), Jafar (Aladin), Úrsula (A Pequena Sereia), Maléfica (A Bela Adormecida), Cruella de Vil (101 Dálmatas), Hades (Hércules) e a Rainha Má (Branca de Neve), mas outros personagens são incluídos ocasionalmente. Os vilões já tem direito a um
show próprio nos navios da Disney, loja no Disney Hollywood Studios (Villains in Vogue) e, claro, vários produtos, como a versão "Villains" do Banco Imobiliário, abaixo. Criar um grupo de vilões tem grandes vantagens para a Disney e uma delas é ter a liberdade de passar recados politicamente incorretos. Por exemplo, o vídeo abaixo é de um brinquedinho de US$5 vendido na loja Villains in Vogue, onde Scar fala uma verdade absoluta que o Mickey nunca poderia falar. Para quem não conhece o Scar, esse vilão é um formidável articulador político que assassina o irmão para conquistar o trono e convence o sobrinho (Simba, o "Rei Leão") que a culpa foi dele. Uma espécie de José Dirceu das selvas.
Mas o reposicionamento mais interessante, na minha opinião é do anão Zangado (em inglês, Grumpy), outro baixinho invocado, à semelhança do herói do primeiro parágrafo. Ele foi transformado num ícone do mau-humor e a Disney vende milhares de camisas com frases mal-educadas que representam muito bem o sentimento de toda uma geração. Basta caminhar por um parque da Disney para ver vários quarentões e cinquentões com camisas do anão (e um sorriso irônico no rosto), exibindo frases como "I'm Grumpy! Just deal with it" ou as das fotos abaixo. A minha frase favorita é "I Am Grumpy Because You Are Dopey", algo como "Eu sou zangado porque você é idiota". Dopey é o nome do anão Dunga em inglês.